segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Uma só, completou.

Era dessa calma que eu precisava.
É esse o tipo de comportamento que faltava para eu me enxergar.
Apesar de não saber exatamente o que é isso, de uma coisa eu sei: era o que eu precisava neste momento. Nada mais, só isso.
E, apesar de tão pesado ser tudo, e digo pesado não no mau sentido, mas no sentido de complexo, profundo, afável eu vejo tudo flutuar, sem muito esforço.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Hoje.

Sofia De Guglielmo Pedroso
18 anos / 3° colegial INDAC
10h57 de manhã do dia 17/09/08
Inverno
Red House Painters / Sun Kil Moon no iPod
Aula (bored) de matemática
Namora Frederico Saade Floeter
Vila Madalena / Pinheiros
12 tatuagens, dois anéis; um em cada dedo do meio, brincos de falsa pérola, colar de lápis lazuri.
Cabelos tingidos de castanho claro, esmalte vinho.
Calça jeans, camiseta listrada, moletom verde, new balance azul.
Quarta feira, frio com sol.
Pernas cruzadas, estojo e celular na mesa.
Na sala: Dinho, Alex, Yuri e Edu.
Na lousa: y-y0 = m(x-x0)
y-3=1/2(x-2)
2(y-3)= -1(x-2)

Dentro, tudo quente.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O dia em que eu peguei trauma do Jd. Pery Alto e da Av. Pompéia

Evito, de todas as formas ir para o ponto de ônibus onde o Jd. Pery Alto parte, as 18h00. Porém, é inevitável que eu não veja ele fazendo a curva indo para a av. Pompéia.
Evito, de todas as formas passar por perto das redondezas de Perdizes, evito a PUC, evito os bares do bairro, evito olhar pras pessoas que moram lá.
Evito, de todas as formas pensar em ir pra praia, por mais que eu queira. Evito até em fumar maconha, porque o cheiro me lembra você. Até isso eu ando evitando.
Evito pensar no teu cabelo encaracolado, na tua risada, na tua Giannini no teu chinelo marrom, na sua calça surrada de moletom, na sua camiseta branca, na sua cama, no seu cobertor azul cheio de fios de cabelo.

Mas já passou.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Cokk.

- Você acha mesquinhez que eu não insinue sacanagem com você?

- Nao. Acho a preguiça um ato meio mesquinho.

-E se eu fosse um genocida que, momentaneamente, tivesse preguiça de dizimar 10 mil pessoas?

-Você estaria sendo mesquinho ainda sim.

-Realmente, tá disposta a tudo...

-Sempre! Tudo não...porque gosto de manter minha integridade, minha moral, e meus bons costumes.

-Eu gosto de ser enganado feito um rim no mercado negro.

-E por que esta sendo enganado?

-Você se importa tanto com tudo o que disse acima quanto um cinzeiro

-É mentira! Você está sendo injusto...porque quem parece ser indiferente sempre, é você.

-Em alguns lugares que frequento sou chamado de brubru justiça

-Eu nao frequento os mesmo lugares que você...

-Você está desnorteada, precisa de amparo e carícias. conheço quem cobre pouco por tudo isso...

-Não, não preciso nem de amaparo, nem de carícias, e muito menos alguem que se submeta a ser comprado. O senhor está sendo um escroto.

-Nunca será a minha intenção.

-Pois em algum momento, foi.

-Se fui, fui por acidente. você pode me perdoar agora, já?

-Posso. Perdoar sempre é um ato tolo, perdoar algumas vezes é ser sagaz.

-Por que tá tão ouriçada, carrancuda?

-Ora ouriçada, nunca carrancuda....

-Eu não vou supor o óbvio...

-Suponha, as vezes pode parecer ridículo, porém é meio necessário.

- a. briga com o namorado / b. tempo do namorado / c. término com o namorado

- Sim, foi a letra c mas estou bem, muito bem assim

- Nota-se...

-Mas é, acredite ou não.

-Eu acredito, acredite.

-Acredito então.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Cortes, arranhões e mijo de cachorro.




Caminhei até a praça ao lado. O caminho era simples; abrir a porta, apertar um botão, abrir uma enorme porta pesada de vidro, descer alguns lances de escada e abrir outra porta, dessa vez pequena porém também pesada. Engraçado como algumas coisas, de diferentes tamanhos, materiais, tem o mesmo peso. Engraçado....não, isso na verdade não tem graça alguma, é apenas uma óbvia observação.
Que seja, fui até a praça. Que não era nem de vidro, nem enorme, e nem pesada. Era uma praça simples, comum. Digo, comum para os outros. Pra mim não. Eu conheço aquela praça como a palma da minha mão. Assim como as cicatrizes que ela provocou. Sei de onde cada arranhão, corte, tampão do joelho arrancado saíram. Lembro de todos os lugares dessa praça onde eu caí.
Chegando, percebi algo errado. Já sei. Não demorei muito para perceber, haviam cortado sua grama. Nunca cortavam a grama. Sempre deixavam ela enorme, impossibilitando que eu corresse, facilitando meus tombos, arranhões e ralados.
Sentei em um dos seus bancos de concreto. Estavam gelados, úmidos com algumas folhas em cima. Formigas, pequeninas formigas. Diabos, odeio formigas. Formigas são repugnantes. Elas vão até nossos banheiros comer nossa pele morta que cai durante o banho. Enfim, sentada no banco consegui observar algumas coisas que não conseguia tempos atrás. Por exemplo, como o brinquedo que eu costumava escorregar é pequeno. Antigamente ele era enorme, gigantesco, monstruoso, morria de medo de subir e escorregar. Hoje não. É apenas um brinquedo de arquitetura bizarra feito de concreto, todo descascado. Sim, pintavam ele quase todo mês.
Não existem mais crianças na minha rua. Não pintam mais o brinquedo feio. Não deixam mais a grama alta pras crianças caírem. Não tem ninguém pulando corda, ou brincando de esconde-esconde. Hoje em dia só tem bosta de cachorro por todo lado, poças e mais poças de mijo, e alguns donos com seus cães emporcalhando mais ainda a praça.
Depois de alguns minutos sentadas comecei a ficar inqueita. Eu tinha algo pra fazer mas não conseguia lembrar. Pois bem, lembrei após uns segundos.
Precisava buscar meus cachorros para mijarem.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

É breve e no metrô.

Irritada, entrei na plataforma. Fui direto na parte onde estão os bancos para eu sentar e esperar. Antes de sentar passei pela sua frente, senti que ele me seguiu com o olhar, não liguei muito, apenas sentei, abri a mochila e tirei meu livro. Em menos de dois minutos o trem chegou.
Eu poderia ter entrado na porta que estava mais perto, mas fiz questão de entrar pela mesma porta que ele entrou.
Ele estava sentado de frente para as janelas e eu de lado. Não estávamos perto. Não estávamos longe, apenas alguns passos de distância. Não havia ninguém no vagão além de nós, eram cerca de 20h30 da noite do último domingo do mês de junho.
Nos olhamos, mas o olhar durou mais do que um comum olhar. Alguns segundos a mais fazem a diferença. Foi um olhar diferente. Voltei e tentei, tentei muito me concentrar no livro. Eu virava meus olhos pra cima, e lá estava ele, me engolindo com aquele olhar. Voltava para a minha leitura, para o que Arturo Bandini tinha a me dizer, mas não consegui. Traí Arturo Bandini, preferi me concentrar neste jogo de olhares do que as palavras tumultuadas de Bandini. Ele então deu um sorriso, um sorriso que me deixou nervosa. Minha mão começou a suar, minhas costas. Senti as gotinhas, as pequenas gotas quentes escorrendo pela minha espinha. Estávamos na estação Clínicas, sabia que em breve ele iria embora e não consegui fazer nada para impedir isso. O que eu, eu poderia fazer?
Continuei fingindo que Arturo Bandini e Camila Lopez e toda aquela história, eram mais interessantes do que aquilo tudo. Continuávamos a nos olhar, meus olhos encontravam os deles e ficavam se encarando cerca de segundos, segundos que bastavam para a gente se entender. Para entender o que o outro queria. E nada, eu não poderia fazer nada, parecia que aquele livro, de algumas gramas tinha o peso do mundo fazendo com que eu ficasse parada, imóvel, sem conseguir mecher uma perna, um dedo, as únicas coisas que se moviam eram os meus olhos, e meus lábios projetando um sorriso desesperador, implorando por algum nome, telefone, voz.
Chegou então na Consolação, eu tinha certeza que ele iria embora. Senti um desespero, uma vontade de sair correndo e impedir a saída dele. Gostaria naquele momento, com todas as minhas forças que o metrô quebrasse. Que as portas entrassem em conflito, que as luzes apagassem, que o caos fosse gerado. Mas nada disso aconteceu e as portas abriram, ele passou na minha frente me olhando, foi aí que consegui enxergar sua camiseta. Morte Asceta. Me deu um alívio, não seria díficil achá-lo. Então o que eu menos queria, aconteceu. Ele saiu. Saiu e deixou aquele vagão mais solitário do que nunca. Seu sorriso não estava mais lá, nem seu olhar, nem o seu tênis desamarrado, seu assento estava sozinho. E eu também.
Enquanto saía, meus olhos grudaram nele. Segui, até ele subir as escadas rolantes. E então a gente se olhou pela útlima vez e ele fez com as mãos aquele gesto "e agora?" e as portas fecharam.
Não existia mais irritação, a briga que acontecera antes de eu embarcar no metrô já era inútil. A única sensação que habitava aquele vagão marrom era o desespero para encontrá-lo em breve. Era o medo do esquecimento.
Quando cheguei no Trianon-MASP tive vontade de saltar e voltar para a Consolação afim de encontrá-lo. Pensei em mil lugares em que ele poderia estar. Mas de tudo, seria inútil. Eu não iria fazer nada.
Não existia mais Arturo Bandini que fizesse com que eu esquecesse essa história toda. Não adiantava, Bandini, você não conseguiu fazer com que eu achasse isso tudo ridículo.
As pessoas começaram a lotar aquele vagão, um sujeito gordo e asqueroso sentou onde o meu amor breve estava sentado. Senti raiva, queria expulsar todo mundo daquele vagão, fazer daquele assento um altar.
Ele já estava longe de mim, eu estava quase no meu destino. A viagem foi a mais rápida de todas.